PAPAGAIO COME MILHO, PERIQUITO LEVA FAMA

HISTÓRIA CONTADA POR VOVÓ BENTA

O teste de HIV deu positivo e o desespero desnorteou a vida daquele homem, cuja vida até então foi uma festa. Perdeu o número de mulheres com quem se ralacionara vida a fora. Havia casado por imposição das familias, pois a moça estava grávida, mas sua liberdade era algo de que não abdicava. O filho que nasceu daquela união era só mais um dos tantos que já tivera e com quem pouco se importava. Não podia ver um rabo de saia sem que a mesma sofresse seu assédio. Será que morreria logo? De que maneira? Sofreria?

Estas perguntas o levavam não só a vários médicos, mas também a todos os adivinhos que lhe indicavam. Dependendo da resposta, tomaria veneno. Já havia programado tudo, pois seus 50 anos foram bem aproveitados e afinal, morrer todo mundo tem que morrer um dia. O que não admitia era sofrer e depender da caridade alheia para terminar seus dias.

Em alguns lugares ouviu alento, em outros pedidos de grandes quantis para "uma salvação certa". Promessas de milagres, beberagem e simpatias. Alguém que se dizia "mãe de santo" chegou a lhe afirmar que fora tão mulherengo porque "tinha junto dele uma Pombo Gira que o induzia a isso, uma vez que esse tipo de Entidade quando gruda no homem, o leva a loucura, pois elas são prostitutas insaciáveis".

Agora tinha um culpado para usa safadeza e sentindo-se mais vítima do que nunca, começou a beber muito, até um dia em que se dirigindo a um bar, passou em frente a um Terreiro de Umbanda. Ouvindo o som dos atabaques, parou e sentiu vontade de entrar. Lá dentro foi convidado a tomar um passe com uma Preta Velha e aceitou.

- Como está Zi fio?

- Mal... Estou com "a doença".

- Hum... A doença dá medo, né zio fio.

- Não, não é só medo, essa maldita mata. Ah, é por causa de uma Pombo Gira que se grudou e me levou a uma vida desregrada.

- Quem falou isso prá zi fio?

- Um mulher que incorpora e que trabalha na Umbanda.

A Prete Velha, que a nível astral sabia de toda a história com antecipação, continuou:

- Nega véia vai ter que explicar algumas coisas. Se zi fio roubar alguém e por isso for condenado, a família toda vai pagar a pena, só porque tem o mesmo nome ou é somente você o responsável?

- É claro que se eu roubei, só eu é que tenho que pagar por isso.

- Muitos filhos de terra se dizem umbandistas, falam e fazem coisas em nome da Umbanda. Trocam mentiras por moedas e ignorando que a Umbanda é serviço de caridade, buscam nela o que deveriam fazer suando o corpo no trabalho. Papagaio come milho, periquito leva a fama.

E com uma linguagem mais direta a Preta Velha continuou a explicar:

- Pombo Gira, meu filho não pratica o mal e se existir alguma Entidade grudada em você, lhe asseguro que não tem esse nome. Pombo Gira não é prostituta que induz nem homens nem mulheres a se desregrarem. Essa Entidade que trabalha na Umbanda é agente a serviço da Lei Maior que trabalha na vibratória de Yemanjá e cujas falanges auxiliam, dentro de uma hierarquia apropriada.

O que o filho fez, foi dar vazão aos seus desejos animalizados, os quais foram alimentados pelos iguais que se aliaram às suas energias. O sexo filho, faz parte dos seres para a sua evolução, a procriação, a elevação e ou complementação do amor. Quando um individuo desperdiça sua energia sexual, através do desregramento, ele dissipa esse energia que deveria servir como energizadora dos próprios centros de forças existentes em seu corpo espiritual, causando o enfraquecimento do sistema imunológico e aceleração do envelhecimento no corpo físico. Os animais que ainda agem por instinto, são regrados o que deveria envergonhar a raça humana pensante. A vida pode ser uma festa, mas quem disse que festa é zoeira? A confusão entre liberdade e libertinagem é que leva ao desregramento e a consequente busca da dor, inestimável mestra.

Não culpe a ninguém pela sua doença e nem queira se punir com a morte, pois ela não existe. Aproveite esse tempo fiho e repense no que é real. Busque se realinhar na vida e tente se auto conhecer. Existe, além da matéria algo imortal e que merece respeito, pois foi criado pelo Todo Poderoso, Deus nosso Pai. Abençoe a doença a quem chama de maldita, pois não fosse ela agira como freio, quanto absurdo ainda cometeria nessa encarnação? Se até agora, o que lhe preocupou foi tão somente os prazeres da matéria, reverte agora a situação e trata de seu espírito.

Ao sair daquela casa, ele não tinha mais vontade de beber e foi para casa pensativo. Nunca havia parado para pensar que nele habitava um espírito e essa alternativa lhe animava a viver, mesmo condenado. E por isso, muitas outras vezes voltou para dialogar com a Preta Velha e receber a sua benção. Até o dia em que não pode mais levantar do leito em razão da febre alta que proporcionara a pneumonia instalada em seu organismo indefeso. Na próxima semana, também não foi falar com a Preta Velha, porque seu espírito abandonara o corpo.

No velório, alguns poucos familiares que na maioria o condenavam, alguns curiosos que comentavam sua vida mal conduzida, mulheres chorosas porque o amavam e mulheres que queriam certificar-se de que "aquela peste" havia morrido mesmo. Deixou dores, deixou amores. Deixou lembranças boas e más e deixou um corpo usado de forma errada. Levou apenas um manancial de coisas a serem acertadas, quem sabe em próxima oportunidade terrena ou ainda drenadas no astral. De que maneira? "A cada um segundo suas obras, já falava um Grande Mestre".

Uma certeza lhe havia dado a Preta Velha: - Nenhum filho de Deus é desamparado. Isso foi à corda a que se agarrou para um dia poder subir outra vez.

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