Quanto rezo converso, sinto e canto. E você???

Mônica Caraccio


Acredito que todos nós sabemos a importância de rezar, orar ou fazer uma prece, mas não sei se todos sabem a importância de falar com Deus ou ainda com aquele PAI, ou MÃE, tão querido e tão especial.

A meu ver, rezar, orar ou fazer preces sem verdadeiramente falar com “Deus”, sem entender que aquele ato é uma conversa, uma relação íntima, um encontro transcendente com o invisível, de nada valerá a pena.


Para mim, o momento de oração é um momento de diálogo entre dois e, na maioria das vezes, entre muitos e não apenas um monólogo, um texto decorado ou um ato de fé simplesmente cheio de esperança.

Quando rezo, converso, falo, escuto, entendo, peço, agradeço, afirmo, compreendo e até discuto, mas sempre acabo aceitando, me emocionando e reafirmando meu amor e minha devoção plena por essa Grandeza e por essa Sabedoria Espiritual que tanto me acolhe e ensina.


Por entender que esse momento é um momento de diálogo, não gosto muito das orações decoradas, mas sei que muitas vezes são importantes principalmente quando pensamos em trabalho religioso espiritual, em uma gira de Umbanda onde centenas e milhares de espíritos necessitam daquela energia e vibração.

Ou seja, quando estamos em uma Gira Aberta e todos sonorizam determinadas orações cria-se uma amorosa egrégora enérgica, vibracional e espiritual que acaba apaziguando e auxiliando a todos.

Essa egrégora forma um campo energético extremamente realizador que, além de ajudar os encarnados na criação de uma aura Divina e um sentimento mais amoroso, ajuda no encaminhamento de espíritos desencarnados que de alguma forma, conseguem curar seus sentimentos ainda tão doentios e tão sofridos.


Vejo, por exemplo, que quando rezamos fervorosamente a Oração do Pai Nosso a energia que se cria é uma energia vigorosa, de afirmação de fé, de determinação e de aceitação. Entendo que não é uma oração para ‘pedir’ propriamente, é uma oração de determinar “seja feita a SUA vontade” e é diante dessa vontade Superior e Divina que devemos nos curvar afirmando nossa fé. Inclusive, se prestarmos atenção, quando rezamos essa oração, quase sempre, o timbre de nossa voz fica mais forte e vibrante.

Essa oração é uma oração de entrega, de certeza, de aceitação e que atinge muitos espíritos que ainda estão em estágio de incompreensão e de vingança, aliás, na Umbanda chamamos esses espíritos de sofredores e eguns. Essa oração também atinge os espíritos que têm a tendência religiosa católica, mas que de alguma forma estão em nossos terreiros para serem ajudados e encaminhados, assim sendo, quando rezamos essa oração esses espíritos se sentem tocados por uma ‘mão divina’ e, mesmo sem saberem, são encaminhados sem revolta, sem dor, sem imposição ou medo. Essa oração se torna um acalento a todos os corações aflitos.


E mais acalentador do que essa oração é a Oração da Ave Maria. Essa sim, quando é rezada em voz alta por muitas pessoas cria um campo energético extremamente amoroso e doce. A sensação é de total acolhimento, como Mães que recebem seus filhos em seus colos.

Nosso timbre de voz adoça, nossa cabeça abaixa lentamente e nosso coração bate mais forte e ao mesmo tempo mais suave. Temos uma sensação de tranquilidade, amor e bondade e é essa vibração que acolhe centenas de espíritos que mesmo sofrendo não querem se desligar de seus apegos. Nessa oração os espíritos Superiores de magnetismo feminino acolhem, cobrem, alimentam, curam e carregam em seus colos centenas de espíritos desencarnados.

Nossos terreiros se enchem de rosas, águas

doces, anjos, véus e amorosidade. A esperança, a doçura e a fé brota em todos os corações, sejam de desencarnados ou encarnados.

Ainda temos a Oração de Cáritas, e essa é a mais linda e comovente em toda a literatura espírita, é a oração dos espíritas. Quando rezada em nossos terreiros, acolhem todos aqueles de tendência religiosa espírita e que de alguma forma também foram encaminhados aos nossos terreiros para tratamentos. Portanto, rezar essa oração é rezar para o espírito, no espírito e pelo compromisso espiritual.


Normalmente, nós umbandistas ou os kardecistas, quando rezamos essa oração sentimos uma leve pressão em nossa cabeça, em nosso chacra coronário ou coroa. Sentimos uma aproximação diferente, mais humana e porque não dizer, mais calorosa. E essa sensação é a aproximação dos Guias e Mentores já nos ajudando e abençoando.


Vale saber, que essa oração foi psicografada na véspera do Natal de dezembro de 1873, por Madame Krell. Ela foi considerada um dos maiores médiuns psicográficos da história do Espiritismo. A perfeição extraordinária de mensagens psicografadas dos maiores nomes da poesia francesa jamais colocou o nome da médium em cheque. Aliás, uma das lindíssimas mensagens que ela psicografou foi “A esmola espiritual”, vejam que grandeza:

A ESMOLA ESPIRITUAL

CÁRITA

Dêem, dêem sua esmola de compaixão, a compaixão conduz à ternura, da ternura à caridade o passo é curto.

Dêem, dêem o sentimento tão doce que se chama misericórdia, a misericórdia conduz ao amor, e o amor é o mais rico diamante do escrínio do Criador.

Dêem, hoje como sempre e sempre como hoje, pois as lágrimas correm todos os dias, os corações sangram, as almas sofrem e, frequentemente, se desesperam!

Dêem, dêem sem pesar e bebam com as mãos cheias no tesouro espiritual, nesse tesouro inesgotável que aumenta quando dele se toma.

Dêem, ó meus irmãos, dêem com as duas mãos e de todas as maneiras; dêem o bom conselho, dêem a proteção, quando puderem, dêem o apoio, dêem a instrução espiritual, dêem essa esmola moral que vale mais do que todas as outras, a do coração, a do pensamento!

Dêem, sem muito se perguntarem, se aquele que recebe é digno da sua caridade; lembrem-se de que os frutos da caridade são algumas vezes tardios, que o verdadeiro devotamento não conta sobre o fruto, quando ele planta o caroço ou quando se tira mudas do arvoredo.

Dêem e amem verdadeiramente, quer dizer, com a alma! Elevem seu pensamento acima do nível comum da vida, quer dizer, amem em Deus, como ele e com ele!

Santifiquem sua esmola, unindo-a ao amor que os transporta ao Criador! Toda criação é sua pátria, toda a humanidade terrestre é sua família, generalizem e aumentem, pois, o sentimento do qual eu lhes falo, espalhando-o sobre todos!

Dêem, dêem muito, e muito lhes será devolvido em luz, em inteligência, em felicidade!

Psicografado por Madame Krell a 2 de Novembro de 1874.
Do livro “Reflexos da Vida Espiritual”
M. Krell,1a. Edição, Ed. CELD (2002)

Não posso deixar de falar ainda da inspiradora Oração de São Francisco, que sem querer me alongar muito, é uma oração que considero o “verdadeiro sentido de Ser Médium”, afinal, como médium temos o dever de Dar MAIS que Receber, temos o dever de levar Amor onde houver ódio, levar o perdão onde houver ofensa, união onde houver discórdia, fé onde houver dúvida, assim como, levar sempre a verdade, a esperança, a alegria e a luz, consolando, compreendendo e acreditando na vida eterna.


Enfim, são muitas orações que mexem conosco, com nosso espírito, com nossa vida, assim como, com os espíritos e com a vida de muitos.


Mas, não posso deixar de salientar duas coisas que para mim são fundamentais:

  • PRIMEIRO: rezar é conversar, é dialogo, é devoção, portanto temos que saber falar, ouvir e sentir. Rezar onde só um fala (e normalmente esse ‘um’ somos nós) não é reza, é mando. E quem tem juízo sabe: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

  • SEGUNDO: para nós umbandistas, não existe reza mais poderosa que um ponto cantado com o coração vibrante e cheio de convicção. Não existe oração mais forte que o repique de um atabaque bem batido pelas abençoadas mãos de um ogan. Não existe campo energético mais vibrante, mais realizador e mais Poderoso que a “descida” de um Orixá diante de nós. Não é mesmo???

Comentários