O OURO DA TERRA E O OURO DO CEU

O ouro da Terra e o Ouro do Céu
 
RICARDO ORESTES FORNI
 
“Eu segurei muitas coisas em minhas mãos e eu as perdi; mas tudo que eu coloquei nas mãos de Deus eu ainda possuo.” – Martin Luther King.
 
Se você pensa que iremos falar sobre o ouro do céu como referência aos tesouros espirituais que a traça não corrói e os ladrões não roubam, então atente para esse trecho da reportagem da revista VEJA, edição 2267, de 2 de maio de 2012, páginas 92 e 93: “A nova corrida do ouro será no espaço. Ou, pelo menos, esse é o plano da Planetary Resources, empresa criada em 2010 por dois empreendedores da indústria espacial, os engenheiros Eric Anderson e Peter Diamandis. Na semana passada, ambos anunciaram uma das mais ambiciosas aventuras já idealizadas: minerar metais preciosos de asteroides que passam próximo à Terra. Em dois anos, a Planetary Resources pretende pôr cinco satélites em órbita pra escolher os asteroides que mais se prestam à mineração entre os 9.000 que já foram identificados numa distância menor que 200 milhões de quilômetros e mapeados pelos astrônomos. Em muitos desses asteroides há fortuna em metais valiosos, como platina e ouro. Mesmo um dos pequenos com 80 metros de diâmetro, pode existir reservas equivalentes a 100 bilhões de dólares”.

Parece-nos, dessa forma, que o ouro da Terra já não está conseguindo aplacar a sede do “ter” do homem do momento em que vivemos. E isso nos remete a uma passagem de O Evangelho segundo O Espiritismo, em seu capítulo XVI: “Havia um homem rico, cujas terras tinham produzido extraordinariamente; e ele mantinha em si mesmo estes pensamentos: Que farei, porque não tenho lugar onde eu possa encerrar tudo o que colhi? Eis, disse ele, o que farei: Derrubarei meus celeiros e os construirei maiores e aí colocarei toda a minha colheita e todos os meus bens; e direi à minha alma: Minha alma, tu tens muitos bens reservados para vários anos; repousa, come, bebe, ostenta. Mas Deus ao mesmo tempo disse a esse homem: Insensato que és! Vai ser retomada tua alma esta noite mesmo; e para quem será o que amontoaste?”.
Infelizmente, quantas pessoas no mundo ainda não se comportam dessa maneira? Empregam toda uma existência na escola da Terra a armazenar fortunas que passam de mãos em mãos e são detidas pela alfândega do túmulo! Pior, ainda, quando essas fortunas representam produto de deslizes morais, situação em que as consequências desse dinheiro amontoado acompanham a consciência comprometida para a outra dimensão da vida, constituindo-se no inferno particular de cada um. Está no Evangelho, no mesmo capítulo citado, essa mesma advertência quando nos ensina que a propriedade só é legitimamente adquirida quando, para a possuir, não se fez mal a ninguém. Será pedida conta de uma moeda mal adquirida em prejuízo de outrem. A falta dessa consciência teria tudo a ver com a procura de ouro no espaço. Grande falta de conhecimento demonstra o ser humano em correr desesperadamente em direção aos valores do mundo, porque os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa à sua vontade, e o homem deles não é senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente – continua a ensinar o Evangelho.

E quando na posse dos tesouros do mundo, adquiridos de forma honesta, como empregá-los da forma mais correta? “Amai-vos uns aos outros”, a solução do problema, o segredo de bem empregar as riquezas do mundo. Se esse amor existir verdadeiramente, a caridade estará impregnada dele, buscando o infeliz e atendendo-o sem humilhá-lo – continua a esclarecer O Evangelho segundo O Espiritismo. Seria fácil esse comportamento quando estamos na posse da fortuna? Também não, porque, infelizmente, há sempre no homem de posses um sentimento tão forte que o apega à fortuna: é o orgulho. Não é raro ver-se o felizardo atordoar o infeliz que implora a sua assistência com o relato de seus trabalhos e de sua habilidade, em lugar de vir ajudá-lo, e acabando por dizer: “Faça o que eu fiz”.

Se já está difícil colocar nas mãos de Deus o ouro que buscamos na Terra para que possamos possuí-lo, incluindo o próximo mais necessitado como beneficiário dele, conforme a orientação do Evangelho e do grande líder espiritual Martin Luther King, será que convém buscarmos o ouro que está fora do planeta?

Ensina Joanna de Ângelis que só a consciência tranquila, que vibra ao ritmo de um caráter correto, se faz pedra angular do edifício da paz segura e da harmonia perfeita: os melhores e mais altos negócios que se podem conseguir numa reencarnação vitoriosa. Seria o ouro do espaço mais eficiente em auxiliar-nos nessa conduta ou, mesmo vindo de lá, continuará a ser barrado na alfândega do túmulo, alimentando o orgulho e deixando vazio o celeiro espiritual de seus proprietários?

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