Pular para o conteúdo principal

Eu não quebro porque sou macio, viu…


Eu não quebro porque sou macio, viu…

Mônica Caraccio
Axé a todos! Hoje quero, com muito carinho, falar um pouco das entidades espirituais que incorporam nos médiuns de nossa Umbanda como baianos.

Sim, quero saudar todo o Povo da Bahia e dizer que ainda não conheci forma mais espetacular de trabalhar como a deles. Talvez por ser a Bahia o território mais colorido do Brasil ou quem sabe por representarem a Umbanda no seu prisma mais puro contextualizado pelo seu poder universalista.

Os Caboclos que se manifestam na Umbanda homenageiam o guerreiro nativo e forte, conhecedor da Natureza e corajoso; os Pretos Velhos manifestam sabedoria, paciência, bondade e humildade dos anciãos que vieram da África; os Erês (Crianças na Umbanda) nos remetem a pureza e a importância de despertá-la em nosso íntimo; já os Baianos, riem, brincam, seduzem, provocam, olham e agem diretamente no âmago do “problema” mostrando que o que falta para nós, para solucionarmos as dificuldades da nossa vida, é encanto, paixão e alegria. É saber que com alguns requebrados tudo se ajeita, tudo se encaixa e melhora.

São bons conhecedores da Magia, assim, agem potencialmente nas magias negativas, pontualmente nos descarregos e sutilmente nas depressões, baixas estimas e amarguras sempre afirmando que “ainda vale a pena”. Aliás, já pararam para pensar na importância dessas palavras, na força dessa afirmativa e no poder de transformação que essa certeza provoca em nosso íntimo? Já perceberam quantas e quantas vezes as dezenas de Zés e Marias, com seus chapéus de couro, flores nos cabelos e em meio aos remelexos da vida, afirmam para nós que “ainda vale a pena”, que “ainda vale há tempo”, que “ainda é possível”?

Recordo agora de um pequeno trecho da música ‘Querido Diário’ de Chico Buarque de Holanda que diz: “Hoje o inimigo veio me espreitar; Armou tocaia lá na curva do rio; Trouxe um porrete a mó de me quebrar; Mas eu não quebro porque sou macio, viu”. Grandioso, não é mesmo?!!! Puro gingado, vicissitude e sabedoria. Puro Axé da Bahia!!!

Mas o Povo da Bahia, como carinhosamente gosto de chamar essa falange manifestadora de Oxalá, é mais ainda.

É mandinga, patuá, laço e fita.

É coco, palha, saia e graça.

É olhar profundo, suspiro forte e macumba certa.

Tudo misturado e verbalizado no “vixe”.

Tudo fundido e dito no “oche”.

Sem milonga pra falar e com muita mironga no olhar o Povo da Bahia não nos deixa penar. No entanto, penamos SIM, quando é para nos agraciar.

Não tem como reclamar.

Zé, Maria, Bastião, Lampião, Severino, Quitéria, Juvência, Jacinta, Mané,  Joaquim, João e qualquer outro de bom coração, o coco, a cachaça, o mel, a cor, o amor e a esperança estão aqui. Aqui no meu altar saudando teu AXÉ.

Cruzados ou não cruzados, na direita ou na esquerda, na umbanda ou na quimbanda, meu reconhecimento e agradecimento.  Sempre com licença, permissão e missão meu olhar está firmado no Seu, assim, é só piscar, sorrir ou firmar que eu estarei aí, no Seu Altar.

Altar de Nosso Senhor como Filha de São Salvador!

E para aqueles que ainda não sabem o que são os “baianos e baianas na Umbanda”, como Eles agem ou o que provocam em nós, leiam, assistam e sintam a música “Falsa Baiana” de Geraldo Pereira interpretada por Mariene de Castro e tirem suas próprias conclusões.

Tenho certeza que muitos ficaram com “água na boca”… ahhhh….

Salve, Salve todo o Povo da Bahia!
Salve seu Zé!
E SALVE todos os Zés, Marias, Bastiões, Lampiões, Severinos, Quitérias, Juvências, Jacintas, Manés, Joaquins, Joões, Anas, Robertas, Silvanas, Brunos, Edméas, Julios, Solanges, Carlos, Reginaldos, Reginas, Katias e Simones.
SALVE Renatas e Teresinhas. Eduardos, Guilhermes, Vaners e Vitors.
SALVE Gabrielas, Vinicius, Marcos, pais, filhos, amigos e inimigos.
SALVE o Sagrado e o Profano. Tudo junto, separado, construindo, contribuindo, desconstruindo, indo e agindo…
SALVE todos nós, todos juntos, todos que entram no samba reviram os olhinhos e afirmam: “Sou filho de São Salvador”

Falsa Baiana

Geraldo Pereira

Baiana que entra no samba e só fica parada
Não samba, não dança, não bole nem nada
Não sabe deixar a mocidade louca
Baiana é aquela que entra no samba de qualquer maneira
Que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras
Deixando a moçada com água na boca

A falsa baiana quando entra no samba
Ninguém se incomoda, ninguém bate palma
Ninguém abre a roda, ninguém grita ôba
Salve a bahia, senhor

Mas a gente gosta quando uma baiana
Samba direitinho, de cima embaixo
Revira os olhinhos dizendo
Eu sou filha de São Salvador

Comentários