UMA HISTÓRIA QUE OS PRETOS VELHOS NOS CONTAM

SEGUNDA FEIRA DIA DAS ALMAS
Uma história que os pretos velhos nos contam
Em uma cidadezinha do interior de Minas Gerais existia um sacerdote católico que, quando não estava nas pregações estava nas ruas ajudando os escravos.

Sempre que podia acumulava uma quantia em dinheiro, os comprava e depois os libertava e não raramente eles ficavam com ele ajudando na paróquia, sua igreja quase não tinha ninguém pois ele já havia comprado brigas com muitos grandes senhores da região, então, devido a estas mesmas desavenças sua igreja nunca recebia doações, então o padre era o pedreiro, carpinteiro, mestre de obras, pintor, e os escravos que com ele viviam sempre ao seu lado faziam os demais serviços.

Não raramente nas missas dos domingos somente escravos entravam na igreja e o padre lhes dava a hóstia consagrada o que para a alta sociedade era um escândalo.

Achavam estranho um padre dedicar-se tanto a seres que nem mesmo alma tinham. Um dia um rico fazendeiro que tinha muita simpatia pelo padre mas não compartilhava de suas convicções com relação aos escravos decidiu perguntar o porque de tanto amor com aquelas coisas pretas.

E o padre respondeu:
_ Meu senhor, quando eu era criança, filho de um importante fazendeiro das plantações do Rio de Janeiro, minha diversão maior era judiar dos escravos. Mas um dia enquanto orava no altar de minha casa, eu tinha uns 12 anos tive uma visão de Cristo na cruz, gemendo e chorando muito, somente eu estava aos pés do Calvário então nosso Senhor olhou-me e soluçando disse:

_ Meu filho porque me feres assim, a mim que te amo tanto?

Entrei em desespero tentando tirá-lo da cruz mas era impossível, ele parecia colado nela, então pedi: _Senhor perdoa-me, que mal faço contra ti? Sou bom, dou o dízimo todos os domingos.

_Então o senhor me interpelou:
_ E quanto aos meus irmãos e irmãs que te servem todos os dias, e, no entanto, te apraz torturá-los como se não fossem gente, que me diz deles.

Eu não sabia o que dizer:
_ Mas Senhor, aquilo não tem alma.

E o senhor disse-me:
_ Ao acaso Meu Pai os criaria para sofrer então filho? Tu mesmo os viste, são seres humanos como tu e teus pais e a cada um que destrata, abre-me uma chaga no corpo, uma chibatada em minhas costas, os pregos se enterram um pouco mais em minhas mãos e pés e nascem mais espinhos em minha coroa.

Eu em prantos supliquei:
_ Senhor, como posso me redimir

E o senhor disse-me:
_ Ama-os como se fossem teus filhos, teus pais, teus irmãos e teus amigos, se assim o fizeres, cada espinho de minha coroa se transformará em uma flor, cada chibatada se curará, as chagas desaparecerão e os pregos irão se quebrar até que eu desça de onde estou.

_ Veja meu senhor que desde aquele dia tenho cuidado de cada negro que encontro, os brancos não precisam de cuidados, eles sabem se cuidar e muito bem, mas a estes filhos de Deus, ninguém tem consideração e com isso nosso Senhor sofre um pouco mais, tenho cuidado de não ser mais um algoz em seu suplício.

O fazendeiro não concordou com o sacerdote, mas também não soube como discordar e acenando a cabeça saiu e não mais apareceu na paróquia.

Segundo todos contam o o sacerdote já na sua idade de 80 anos ficou muito doente devido a todo desgaste de sua vida de intensa doação, e acamado foi visitado por muitos enquanto os negros que havia libertado durante toda sua vida, 200 negros e negras não saiam do seu lado e não descuidavam de seus cuidados.

O sacerdote morreu, na manhã domingo de Páscoa, dizendo ver Jesus todo de branco, sorrindo e bendizendo ao irmão que o livrará de sua cruz. Segundo eles nos contam, no instante da sua morte todo recinto foi tomado por um aroma suave de rosas brancas e todos os chefes religiosos dos negros disseram em uma só boca, que o aroma era das rosas da coroa do Cristo, onde o sacerdote havia conseguido converter os espinhos e embaixo de sua cama, foram encontrados exatamente três pregos grandes, como nunca haviam sido encontrados em toda região.

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